Tal como está, proposta de diálogo na Venezuela dará em nada

Carlos Díaz / Flickr / CC BY 2.0

Pouco depois de o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, se reunir com o papa Francisco, na semana passado, foi anunciado que o governo e a oposição tinham concordado em participar de um diálogo longamente buscado para procurar uma solução para a crise crescente da República Bolivariana.

Sem um trabalho mais adequado de preparo, porém, é possível que o diálogo proposto, patrocinado pela Unasul e o Vaticano e previsto para começar nos próximos dias, acabe por fazer mais mal do que bem.

Pode levar o governo autocrático venezuelano a se enraizar mais solidamente, fraturar e enfraquecer ainda mais a oposição já tolhida e deixar os problemas da Venezuela sem solução.

Os governos insensatos, arbitrários e frequentemente incompetentes de Hugo Chávez (1999 - 2013) e do seu sucessor são os principais culpados pela situação da Venezuela: uma economia prestes a quebrar, um impasse político volátil, instituições democráticas sufocadas e uma escassez desesperadora de alimentos. 

Mas o derretimento venezuelano também reflete o fato de uma América Latina fragmentada não ter conseguido mobilizar qualquer resposta cooperativa à crise da Venezuela. As muitas instituições regionais criadas com o intuito de unificar a América Latina parecem há anos estar quase indiferentes à tragédia na Venezuela.

Na primeira década do governo de Chávez, a economia, enriquecida pelos preços altíssimos do petróleo, cresceu rápido; os gastos sociais se multiplicaram, e a pobreza e desigualdade recuaram.

A Venezuela teve recursos suficientes para ajudar a financiar Cuba e outros aliados ideológicos; o país foi um importante mercado de
exportações e fonte crucial de recursos para muitos países.

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